RECEITAS DO TEMPO DA VOVÓ ....
Mais do que um projeto pessoal,
esse texto é uma homenagem à minha avó Terezinha e tem como principal motivo
poder passar a todos vocês um pouco da estória, dos cheiros, dos gostos e das
boas lembranças que guardo da minha infância.
Para melhor compreensão, preciso
traçar uma linha do tempo e fazer uma pequena demonstração da minha árvore
genealógica. Pois bem. Vou começar do fim.
Moro em Porto Alegre com meu
marido e minha filha. A mudança para Porto Alegre foi uma opção. Antes disso
morei no Rio de Janeiro, cidade que me fez profissional, mulher e onde tenho
família e amigos. Até hoje se me perguntam de onde sou, respondo: do Rio ! É
uma questão de identificação de alma. É claro que se a conversa durar mais de 5
minutos, explico toda a origem. Antes do Rio de Janeiro, morei com família
(pai, mãe e irmã) em Recife, apesar de ter nascido em João Pessoa. Logo,
literalmente cruzei do Oiapoque ao Chui.
Meus pais são nordestinos, sendo
meu pai natural de Santa Rita, na Paraíba e minha mãe, natural de Monteiro,
também uma cidade do Estado da Paraíba. É nessa cidade – MONTEIRO – onde tudo
começa ...
Era lá que morava minha avó
Terezinha, com quem eu passava todas as minhas férias, rodeada de primos. Como
era bom. Eu tinha 11 tios e a maioria tinha filhos e ainda moravam em Monteiro.
Aquelas férias são inesquecíveis. Cidade do sertão da Paraíba, onde tínhamos
total liberdade de passear pelas ruas, ir a casa dos familiares e amigos, andar
a cavalo e, passear a noite no Coreto da Praça ... depois de ter ido à missa, é
claro, já que no interior e, principalmente com a minha avó, ir a missa de
domingo era obrigatório.
Aqui consigo começar a situar a
origem deste projeto. Minha avó era uma pessoa maravilhosa, muito religiosa e,
principalmente, uma cozinheira de “mão cheia”, como diziam naqueles tempos. A
casa da minha avó era grande e espaçosa, apesar de ser um lugar muito simples,
como era e ainda é comum nas cidades do sertão nordestino. A cozinha era
espaçosa, tínhamos fogão a gás e a lenha e uma mesa de jantar enorme, cabiam
umas 20 pessoas sentadas (em um banco contínuo) tranquilamente.
As refeições eram o momento mais
esperado do dia e das festas. Todos os filhos, netos, sobrinhos e até vizinhos
apareciam na hora das refeições, sempre prontos e desejosos por comer aquela
comida tão saborosa. Eram pratos que minha avó fazia com maestria e sem
qualquer preocupação com caloria, colesterol, gordura, entre outros problemas
que hoje rondam nossas cabeças.
Lembro perfeitamente do cheiro da
comida e de alguns pratos em especial, como o salpicão na noite de Natal, os
sequilhos, o “bolo de caco” ... são únicos
e colocam no bolso qualquer chef de
cuisine.
Todo o talento gastronômico da
minha avó foi herdado por minha mãe, que também cozinha divinamente e por minha
irmã que, aos 11 anos de idade, pediu para fazer um curso de culinária. Naquela época não era in ser chef e eram poucos os cursos de culinária na cidade. Sim, curso de culinária ... gastronomia é o nome moderno. Para mim, filha caçula, não sobrou nada deste talento. A única coisa
que eu fazia bem àquela época era um bom ovo mexido que meu pai (acho que para
me fazer feliz) dizia que era o melhor ovo mexido do mundo. Coisas de pai ...
Com o talento herdado por minha
irmã, em 1991, minha avó resolveu presenteá-la com um “CADERNO DE RECEITAS”.
Ela escreveu todas as receitas, de próprio punho, com aquela letra maravilhosa
de professora, cujas fotos ilustram este blog. Tempos depois, como minha
irmã já tinha talento de sobra, resolvi pegar este caderno emprestado e nunca
mais o devolvi. Confesso que são pouquíssimas as receitas que consigo fazer,
pois a linguagem, os ingredientes e o grau de dificuldade das mesmas não me permitem
tamanha aventura, mas jamais consegui devolver esta obra de arte, pois leio as
receitas como se elas fossem um conto. Consigo imaginar a minha avó fazendo
cada uma destas receitas em sua cozinha.
Agora, resolvi
compartilhar algumas destas receitas com todos vocês, como uma forma de
prestar-lhe uma homenagem e com o objetivo de eternizar estas sábias lições de
doçura e sabor.
Importante frisar que a
transcrição das receitas é literal. Peço desculpas pelos erros de gramática e
ortografia, mas a beleza destas receitas está na forma como elas foram
escritas, dado o carinho e a pessoalidade nelas impressas.
A minha avó, meu MUITO OBRIGADA
!!!!
A todos aqueles, familiares e
amigos, que comeram um “quitute” da D. Terezinha, segue uma lembrança.